Mês: dezembro 2016

#18 Traição (4 diálogos no balcão do bar)

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-E ai Marcelo, senta ai. Caçapa, traz um copo pra ele.

-Não quero beber não, ainda mais contigo.

-O que eu fiz, cara?

-Como assim o que tu fez, Roberto? Tu sabe muito bem das suas atitudes, traíra.

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-Eu tô falando sério, não faço a mínima ideia do que você ta falando.

-O que foi? A sua traição vergonhosa fez você esquecer das coisas?

-Como você descobriu isso?

-Você tá preocupado com a coisa errada, se preocupe em como tá queimado seu filme. O que tu fez é até pecado.

-Porra, Marcelo, tu tem que entender meu lado. A gente sempre foi parceiro. A Bruna, cara, aparentemente, perdeu o tesão por mim. Ai apareceu essa estagiária lá no trabalho, 19 aninhos, passou dos 15 até os 17 apenas fazendo sexo oral e anal, pois queria casar virgem. Aos 18 anos teve uma desilusão amorosa e por isso quis descobrir todos os prazeres do sexo. Eu sei que traição é pecado e que Deus diz pra não se deixar cair em tentação, mas, porra, uma tentação dessa era impossível resistir. Entende o meu lado, cara.

-Não vem com esse papo pro meu lado, Roberto. Aqui no Brasil ninguém liga se você trai sua mulher, até eu traio a minha, mas uma coisa que não se perdoa aqui é gente que troca de time de futebol, seu merda. Relacionamento com time de futebol é coisa séria, tem que ter fidelidade e durar do dia que você escolheu seu time até a sua morte.

#17 Ô lá em casa

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18:45: A Luzia estava descendo a rua onde fica o bar.
18:48: O Robson, que estava na parte da frente do bar, mandou um fiufiu, começou a chama-la de gostosa e com “ô lá em casa” terminou a sua cantada.
18: 52: Ela se virou como se fosse uma jurada do the voice, mas da sua boca não saiu nem um elogio, só insultos. E continuou descendo a rua em direção à sua casa.
18: 59: Cheio de raiva, ele começou a desabafar que não aguenta mais essa geração de mulheres tão frescas que não conseguem nem aceitar um elogio de um macho.
19:10: Subindo a rua do bar, um gay, olhou o Robson e quando percebeu que os seus olhos tinham se encontrado com os dele, ele, o homossexual, falou baixinho e pausadamente, para que ele pudesse entender: lin-do, gos-to-so.

19:12: O Robson se levanta enfurecido, com a garrafa de cerveja na mão, vai até o homossexual, e promete, apontando a garrafa na cara dele, que da próxima vez, ele iria ficar com a cara toda cortada.

 Isso tudo aconteceu em uma quinta-feira, naquela semana eu tinha baixado e começado a assistir a primeira temporada de “24 horas”.

Aquilo parou de se repetir por um tempo, não o Robson cantando todas as mulheres que passam pela frente, mas a Luíza se revoltando com as cantadas, ela passava e fingia que não era com ela.

Até que em uma sexta-feira, após ouvir as mesmas gracinhas que sempre terminavam com ô lá em casa, ela, cansada do trabalho e de saco cheio daquilo, veio até o bar. Ele ficou sem reação. A Luíza sentou na cadeira que estava livre na mesa que o Robson estava sentado, assim ficando de frente pra ele, pediu um copo pra acompanha-lo e uma poção de batatas fritas, tudo na conta dele.

Percebendo que o galanteador não praticante continuava calado e atônito, ela puxou assunto falando sobre a rodada de quarta-feira do brasileirão. Durante uns 25 minutos de conversa as palavras tímidas que saíram da boca do conquistador de 1,99 foram: Gostei; ok; sim; isso mesmo; é foi um golaço; esse eu não vi; sim; isso mesmo; nós nos vemos de novo sim; tchau.

Depois desse dia voltaram a se encontrar aqui no bar, sempre a Luíza que tomava as iniciativas, começaram a ser vistos em outros lugares, se conheceram melhor. Já estavam saindo há um certo tempo. Ele estava totalmente apaixonado, enquanto fazia planos de construir uma vida a dois com ela, a Luíza fez ele assinar uns papeis e entre eles tinha um que o Robson passava a casa pra ela.

Hoje em dia, quando ela passava pelo bar voltando do trabalho e o Robson esta aqui, ele sempre diz, baixinho e envergonhado olhando pro chão: “ô eu com a minha casa”.